Integração #3 – Se não pode contra o inverno, junte-se a ele

Faça uma caminhada em dia de céu azul e muita neve. Eu sei, existe um fenômeno climático interessante por aqui: quanto mais limpo o dia, mais baixa a temperatura. Por conta disso, há duas opções para sua caminhada no inverno: temperaturas amenas e dias cinzentos, ou dias ensolarados e temperaturas glaciais.

Eu prefiro os dias ensolarados congelantes. Céu azul e neve branquinha. O frio congelante dá lugar a uma incrível sensação de frescor depois de cerca de dez minutos de caminhada para esquentar. Respira-se ar puro e consegue-se até sentir calor, dependendo do número de casacos e blusas debaixo do casaco-mor de inverno.

Para suportar o frio nos pés, tenho uma dica quente: calce uma meia normal, um saco plástico por cima, meia grossa por cima do saco plástico e o seu sapato de inverno. Dica de moradora do Pólo norte, em entrevista na rádio aqui. Testei nos Alpes debaixo de -18 (isso mesmo: menos dezoito) graus e aprovei.

Outra forma de se adaptar ao inverno é aproveitar as pistas de patinação ao ar livre. São gratuitas, embora não tão lisinhas quanto aquelas de shopping que alguns costumam frequentar no Brasil em dias de verão, geralmente em véspera de Natal com papai noel de barba de algodão. Enfim… nos lagos e rios congelados aqui pode-se patinar.

Atenção apenas a questões de segurança: o gelo precisa estar espesso o suficiente, por motivos óbvios. As rádios costumam dizer onde está seguro patinar, mas eu costumo seguir uma regrinha básica: tem muita gente na pista? Tem crianças patinando? As temperaturas estão negativas há mais de uma semana? Se a resposta for “sim” a todas essas perguntas, pode patinar. Geralmente os locais perigosos são marcados com faixas de isolamento também. Atente a elas e mantenha distância.

Não eu não adquiri meus patins. Ainda. Estou pensando no assunto, depois de ter alugado infelizes patins de uma fina folha de couro mixuruca que fez meu pé congelar antes do tempo e estragar minha diversão da última vez. Patins alugados agora, só em quadras fechadas.

Agora atenção ao registro do look sensacional da mocinha na sua última caminhada gelada, ao lado do amado marido, nos Alpes. Essa moda de casaco vermelho, luvas azul-turquesa e óculos à la John Lennon ainda pega. Coisa linda (isso foi uma ironia. Mas eu estava quentinha).

Alpes III: Höllentalklamm

Dicionário:

Hölle: Inferno
Tal: Vale
Klamm: talvez seja uma fenda em uma rocha, mas, segundo a definição do Wikipedia alemão, Klamm também é preenchido pela água de um rio, geralmente em forma de cachoeira.

Porque cargas d’água esse lugar maravilhoso chamado Höllentalklamm assim se chama eu não tenho ideia. Fato é que a trilha do Höllental (com o Höllentalklamm no caminho) é uma das coisas mais lindas que já vimos, um dos caminhos mais bonitos que percorremos.

Esta trilha se tornou uma das nossas favoritas até agora, apesar de não termos alcançado nenhum cume a partir dela. Fato possível para escaladores ou pessoas mais em forma e com mais tempo, tanto sentido Alpspitze, quando no sentido Zugspitze. Nossa expedição parou na paisagem da foto acima.

O caminho segue beirando um rio de águas correntes e cristalinas no meio da floresta. Subir a montanha depois de cerca de uma hora de caminhada é acompanhar este rio até a sua nascende, passando por falésias com diversas cascatas. A paisagem é de natureza linda, e oferece ainda pontos com panoramas de tirar o fôlego.

Nós seguimos o vale até uma base ao pé da montanha, de onde sai a trilha sentido Zugspitze (o da foto acima) e, de lá, pegamos uma trilha em direção a um dos bondes para descer. Caso você não esteja em forma, eu não recomendo fazer isso. Há um trecho de subida íngreme nessa trilha que, depois de cerca de três horas de subida pelo vale, pode levar você a crises de falta de ar, sensação de que suas pernas não mais o obedecem, suor (frio ou quente, tanto faz) e vertigens, e uma crescente obcessão por caminhos retos ou de descida. Eles chegam em algum momento.O caminho vale a pena, é belo, mas não é fácil. Na dúvida, desça pelo mesmo caminho por onde subiu.

Para entrar na Klamm, há um ponto de parada onde cobra-se uma entrada no valor de três euros.

É importante pensar em duas coisas antes de subir: sapatos de trilha impermeáveis e casaco de chuva. Há várias cascatas no caminho, algumas grutas e, eventualmente, a trilha fica molhada, com poças e ainda sobram umas gotas pro caminhante. Às vezes muitas. Em dia de calor intenso isso não é problema, mas em dia de frio, sim.

Para chegar:

Saindo de Munique, é só pegar o mesmo trem sentido Mittenwald e saltar em Garmisch-Patenkirchen. O trem sai de hora em hora.

Chegando em Garmisch, há um trem que vai direto até o Zugspitze. Caso você tenha o Bayern Ticket (aquele que custa 29 Euros para circular por toda a Baviera, válido para um grupo de até cinco pessoas), basta apresentá-lo no balcão de informações e receber o ticket do trenzinho. Para a trilha do Höllentalklamm, é preciso saltar em Hammersbach. De lá é só seguir as placas.

O site Höllentalklamm (http://www.hoellentalklamm-info.de) tem mais informações a respeito, além de fotos. Eu sei, está tudo em alemão, mas clicando em Bildergalerie é possível ver mais fotos, além das deste post.

Fotos: arquivo pessoal

Os Alpes II: como conhecer uma banda muniquense

Faltou contar um causo no último post, aquele ali que conta sobre os Alpes.

Estávamos lá admirando a vista do alto das montanhas, quando nos surpreendemos com uma banda gravando um videoclipe no mirante. A música era boa, os rapazes pareciam famosos. Mas eu não sabia de quem se tratava, nunca tinha visto mais gordos.

Lá no trabalho tem um mocinho afeito ao estilo dos rapazes. Ele conhece a banda, gosta muito e viu o tal videoclipe recentemente na rede. Como eu tinha comentado com ele sobre o meu testemunho nas montanhas na ocasião, ele juntou as peças e me passou o link do resultado. Por sinal, um ótimo resultado, e alcançado em prazo surpreendente, coisa de menos de dez dias entre gravação e lançamento nacional por aqui, que ocorreu no dia treze deste mês, se não me engano.

Para ir direto ao que interessa: a banda se chama Emil Bulls, os rapazes são de Munique, fazem um estilo metal com algum tempero pop e estão na estrada desde 1995. Um sucesso nacional por aqui!

E o video? É o carro-chefe do lançamento do novo álbum deles. Ah, e ficou demais! Terminei de assistir e fiquei morrendo de vontade de voltar lá pra fazer umas caminhadas!

Então, para conferir o som da banda, o super vídeo e essas paisagens lindas deste pedacinho da Baviera que considero um paraíso na Terra, apertem o “play”:

p.s. eu sei, eles cantam em Inglês, mas acreditem: são de Munique mesmo.

Os Alpes

Eu amei morar em Berlim. De verdade. Fui mega feliz lá. Mas, confesso, sempre comentei que sentia falta de montanhas. A região inteira é plana sem fim!

Dito isso, não é difícil imaginar qual é uma das minhas grandes paixões aqui na Baviera: os Alpes. Aqueles mesmos, que muitos associam a lindas imagens com neve e a estações de esqui, oferecem paisagens que poderiam virar pinturas também nas demais estações do ano.

Durante nossas férias em Balkonia, passamos um dia por lá. A região oferece inúmeras possibilidades, entre passeios de trem e bondinho, caminhadas leves ou mem tanto, até escaladas de todos os níveis para os mais radicais. De Munique para lá, leva-se aproximadamente uma hora de carro ou uma hora e vinte de trem. Este post explica alguns detalhes sobre o que se pode fazer por lá no verão.

Informações gerais:

Para chegar aos pés dos Alpes do lado bávaro, deve-se seguir até uma estação chamada Garmisch-Patenkirchen. Há trens saindo de Munique de hora em hora até lá, onde deve-se pegar um segundo trem até o destino desejado nos pés das montanhas (falo sobre eles mais à frente), e o percurso demora cerca de uma hora e meia. De carro leva-se cerca de uma hora, em uma das estradas mais lindas que já vi na vida. E o estacionamento na base do teleférico é gratuito.

O pico mais alto da Alemanha se chama Zugspitze, com 2962 metros de altitude, localizado na fronteira com a Áustria. Na mesma região encontra-se o Alpspitze, com 2628 metros e também considerado um dos mais altos da Alemanha. Ambos são os principaos picos da região. Entre o Zugspitze e o Alpspitze existe uma espécie de “platô inclinado”, enorme, que se torna uma grande área para esqui no inverno. O mesmo acontece na base do Alpspitze. Há ainda inúmeros outros picos e vales na região. No verão, muitas possibilidades de trilhas e rotas de escalada.

Eu vou falar bastante nestes dois picos ao longo deste texto, portanto já pode guardar estes nomes desde já: o Zugspitze é o pico mais alto da Alemanha, seu vizinho Alspitze é só um pouco menos alto. Gravaram? De novo: Zugspitze é o mais alto, Alpspitze logo ali e menos alto.

Para pouco afeitos a esporte

Não está em forma? Não tem paciência para longas caminhadas? Escalar não é com você? Não tem problema! Ao Zugspitze você pode subir direto de Zahnradbahn. Trata-se de um trem que leva você direto até o topo da Alemanha, com direito a trecho inclinado montanha acima.

Ainda praqueles lados, você pode subir de teleférico – o Eibsee Seilbahn – até o Eibsee, um lago no meio da subida, a 973 metros de altitude. Para o Alpspitze, suba de teleférico para a estação Alpspitzbahn.

Há ainda outras opções de teleféricos, mas estas são as principais opções. Entretanto, vale ressaltar que o teleférico do Alpspitze, ao contrário do trem que leva você até o topo o Zugspitze, não leva você até o topo do Alpspitze, e sim a uma base. Para subir ao topo é preciso seguir uma das trilhas de caminhada ou rotas de escalada.

Em todos os destinos citados acima você encontra a famigerada infraestrutura. Banheiros, um restaurante, um mirante e coisas do gênero. Os teleféricos e o Zahnradbahn são, portanto, boas opções para quem quer subir, curtir a vista e o ar das montanhas e tomar uma boa cerveja bávara. O Eibsee, assim como a maioria  (ou talvez todos) dos lagos da região, é de águas limpinhas e muito apropriadas ao banho.

Eibsee. Foto: Seen.de

Para os caminhantes

Há trilhas de diversos níveis de dificuldade na região. Falei acima de trens e teleféricos, mas se você tiver tempo e boa forma, pode subir da base ao Zugspitze a pé. Porém, para tal empreitada, é preciso planejamento, eventualmente acampamento (no Eibsee há alguns campings) e, de preferência, subir no alto verão, quando o sol cai às 22 horas.

Você também pode optar por trilhas médias, como fizemos. Nós subimos de teleférico até a estação de Alpspitze e caminhamos por uma trilha até a estação de Kreuzeck, percurso que durou cerca de duas horas, em descida a maior parte do tempo. Há caminhadas mais pesadas, caminhadas combinadas com escaladas, entre estações ou até o topo de algum dos picos.

Em todos os casos, é altamente recomendável chegar o mais cedo possível ao local. Mais cedo mesmo, saia de Munique às seis da manhã, por exemplo. As estações dos teleféricos tem mapas das trilhas disponíveis em diversos idiomas, gratuitamente, com descrições e informações como nível de dificuldade e tempo necessário.  Há ainda um painel em diversos lugares na base com informações sobre as trilhas. É importante também checar esses paineis ao chegar, pois eles também informam que trilhas estão abertas ou não.

Em nossa próxima ida aos Alpes, queremos fazer a trilha do Höllentalklamm, que passa por dentro de uma floresta, com direito a paisagens lindas e pequenas cachoeiras, seguindo pelo vale que leva à base do Zugspitze. Não pretendemos subir a partir daí, mas quem escala e “se garante” pode seguir parede acima até o cume. Faremos isso quando estivermos em forma na escalada!

Para escaladores

Eu estou fora de forma quando o assunto é escalada. Mas já escalei por lá no verão de 2008. Há os chamados Klettergarten, ou parques de escalada, com diversas rotas de diferentes níveis de dificuldade. Eu escalei no Klettergarten do Alpspitze, na época eu escalava rotas de nível intermediário a avançado. Não me garanti para um cume, e nem tinha disponível o tempo que tais rotas exigem. Mas me diverti um bocado por um longo dia.

Como mencionei acima, há uma rota a partir do vale Höllentalklamm que vai até o Zugspitze, além de uma que vai da estação do Alpspitze até o cume de mesmo nome (Alspitze Ferrata). Certamente há ainda muitas outras opções, mas essas foram as que me deram mais vontade de subir. Encontrei algumas informações sobre essas duas rotas aqui e aqui (em inglês). É possível contratar guias para elas, com equipamento incluido no preço, mas adianto que os valores são salgados. E eu infelizmente perdi os folhetos que peguei lá com informações a respeito.

Para todo mundo

A melhor fonte de informações para todo mundo antes de subir é o site do Zuspitze (http://zugspitze.de). Tem informações sobre trilhas, previsão do tempo, fotos da webcam em tempo real, preços e informações sobre os trens e teleféricos e todas as informações mínimas necessárias antes de subir.

Os preços dos teleféricos são meio salgados: 24 Euros por pessoa no pacote padrão para subir e descer. O ideal para economizar é planejar o que vai fazer com antecedência e ir em grupo. Há algumas opções de tickets-família, vale a pena conferir no mesmo link que citei acima.

Se quiserem arriscar uma trilha no inverno, ou mesmo no outono, preparem-se muito bem para o frio. Calçados de trilha e agasalhos adequados são obrigatórios. Vale lembrar que nem todas as trilhas permanecem liberadas nestas épocas do ano.

Para quem vai de trem, saindo de Munique: aproveitem o Bayern ticket! Ele vale para um grupo de até cinco pessoas para quantas viagens você quiser dentro da Baviera, pela bagatela de 29 euros. De segunda a sexta o horário de validade dele é de 9 da manhã até 6 da manhã do dia seguinte. Em fins de semana ele já começa a valer a partir de 6 horas da manhã, se não me engano. A dica vale para qualquer passeio dentro da Baviera. Informações sobre horários de trem no site da Bahn, clicando aqui. Ou diretamente na estação de trem, a Hauptbahnhof.

No mais, digo a vocês: as paisagens por lá são verdadeiras pinturas em qualquer época do ano.

ps. as fotos sem legenda são do nosso arquivo pessoal.