Manual da integração #1: a experiência gastronômica

Pesquise sobre as especialidades locais. Evite a internet, pergunte aos amigos, colegas de trabalho, pessoas locais.

Depois dê o seu toque pessoal à receita. Integrar-se não significa esquecer quem você é e virar alemão. É adaptar-se à cultura local e trazer o que tem de bom na sua como contribuição. Simbolicamente falando, pegue a receita local e acrescente algo seu como contribuição.

Eu descobri que um dos pratos mais tradicionais da Baviera é o Spätzle. Provei desta delícia pela primeira vez na casa de um amigo local, que preparou a versão mais tradicional: com queijo.

Um bom bávaro diz, obviamente, que é uma especialidade bávara. Mas dizem outros não-bávaros que trata-se de uma especialidade schwäbisch, ou seja, original de Schwaben, região situada entre os estados de Baden-Würtemberg e Baviera. Para mim é especialidade do sul da Alemanha. Ponto.

Spätzle é uma massa cozida típica, e pode ser servida como prato principal ou como acompanhamento de carnes, por exemplo. É uma das muitas especialidades de tempos de escassez, onde era preciso ser criativo com poucos e simples ingredientes, como farinha e ovos, por exemplo.

Perguntei a um colega do trabalho pela receita. Receita de um “local”, por assim dizer. Muito feliz pelo meu interesse, o rapaz providenciou a descrição da receita básica e de três variações do Spätzle.

No dia seguinte ele recebeu uma foto da variação mais tradicional, preparada na noite anterior, com um “toque a mais”.

Modo de preparo:

Encher uma panela com 3/4 de água, acrescentar sal e um pouco de óleo e deixar ferver. Enxaguar o Spätzlehobel com água fria, preencher o recipience móvel com massa – não sobre a panela, senão a massa “gruda” – e, com leve pressão, mover o recipiente pra lá e pra cá sobre a panela, até a massa ter passado toda. O Spätzle está cozido quando boiar na panela. Retirar com a escumadeira e deixar escorrer. Dica para a limpeza do Spätzlehobel: limpar os restos de massa com uma escova e água fria, e depois lavar normalmente. Não lavar na máquina.

Mas Jane, o que é um Spätzlehobel?

Resposta:

O tal recipiente é a parte branca, que corre para lá e para cá. É possível usar um espremedor de babatas para fazer passar a massa, se ela tiver uma base alternativa com furos grandes. A massa tem que passar pelos furinhos e cair na panela em forma de “gotinhas”.

Agora os ingredientes.

Receita básica (para 4 pessoas):

  • 500g de farinha de trigo
  • uma pitada de sal
  • 4 ou 5 ovos
  • 1/8 a 1/4 de água

Misturar todos os ingredientes até formar uma massa macia. (Este video aqui mostra a consistência da massa direitinho, lá pelos 2 minutos). A massa não pode ficar firme! É “molenga” mesmo. E o vídeo mostra tanto o modo de fazer com o Spätzlehobel, quanto com o espremedor de batatas.

Kässpätzle (Spätzle de queijo)

Esta é a variação mais tradicional. Prepare a receita básica. Em uma forma intercale camadas de massa com camadas de queijo emental. Cubra tudo com uma camada de cebola tostada. Leve ao forno a 60 graus por cerca de dez minutos, só para derreter o queijo.

A minha contribuição foi acrescentar bacon torradinho junto com a cebola. O resultado está na foto acima.

Spätzle integral

Receita básica, substituindo a farinha de trigo por farinha integral. Eventualmente pode-se misturar a farinha integral com farinha de trigo na proporção de 2/1, caso a massa fique muito firme. Fica ainda melhor se, depois de pronto, fritar com um ovo em uma frigideira. Servir com salada.

Spinatspätzle (Spätzle de espinafre)

  • 400g de farinha de trigo
  • 2 a 3 ovos
  • 1/4 litro de água
  • 250g de espinafre fresco picado e cozido.

Temperar tudo com sal e noz moscada e misturar até formar uma massa com a consistência descrita acima. Servir com molho de carne moída.

E por fim, Späzle é uma especialidade que dá margem para muita criatividade. A receita básica pode ser servida como acompanhamento do clássico Schweinebraten* ou outros tipos de carne, por exemplo. Também é possível fazer a variação de espinafre usando outras verduras ou ervas.

Eu ainda estou pensando como integrar algum elemento da culinária brasileira no Spätzle… De preferência diretamente na massa.

Oktoberfest: impressões e algumas fotos

Este ano marcamos presença na Oktoberfest por seis vezes. Seis.

Começamos com a visita da minha irmã, sobrinha e marido da sobrinha (é, a idade da sobrinha quase bate com a minha, longa história). Fomos duas vezes. A dobradinha justifica-se por duas tentativas (frustradas) de entrar em uma das tendas. Para fazer daquelas coisas de subir nos bancos, cantar, dançar e brindar com o pessoal animado lá de dentro. Sexta-feira foi impossível, eram praticamente todas as tendas com portas fechadas por causa da lotação. Apenas uma estava aberta, mas sem lugares do lado de dentro. Graças a muita paciência, lábia do marido da sobrinha e a uma garçonete simpática, conseguimos lugar em uma das mesas do lado de fora para comer nosso Spätzle, Schweinebraten e nosso Gulasch. Com cerveja, obviamente. No sábado tentamos de novo, chegando cedo, sem sucesso. Passeamos pelo lado de fora mesmo e depois fomos sassaricar pela cidade, já que só tinhamos um dia para isso.

Na terceira vez foi com nosso segundo amigo visitante. Foi tranquilo, dia de semana, e conseguimos lugar em uma tenda menor para jantar. Menor, mas não menos animada. Deu pra comer e depois subir nos bancos pra cantar, dançar e brindar.

Nosso amigo visitante nos acompanhou também na nossa quarta vez na Oktoberfest, com o pessoal da empresa. Foi mais tranquilo, no sentido de termos poupado a árdua tarefa de disputar uma mesa no interior da tenda da Löwenbräu, uma das mais animadas (e mais lotadas), já que a empresa tinha feito reserva. Mas passou longe de ser tranquilo. Claro, foi muito mais divertido do que qualquer coisa, mas tem sempre um ou outro inconveniente provocado por gente que não sabe beber. No caso, uma inglesinha divertia-se guardando um terço da cerveja na caneca para jogar nas pessoas. Depois de provocar o terceiro banho de cerveja em quem não tinha o menor interesse neste tipo de banho, ela foi retirada do local por um amigo e não voltou mais. De resto, tudo é festa quando se tem disposição.

A quinta vez foi a descoberta do Oide Wiesn, descrito no post anterior. Ah, que sossego, em comparação com as demais tendas! Claro, é cheio, mas é transitável e tem um clima mais familiar, ao contrário daquela coisa de azaração, bagunça e afins das demais tendas. O ambiente também é nostálgico, já que ali tudo imita o passado. Inclusive as canecas. Nós fomos  lá com amigos que nos visitaram, e encontramos com com nossos melhores amigos.

Voltamos lá ainda uma última vez, no último dia, com nossos melhores amigos. Também ficamos no Oide Wiesn, embora desta vez tenha sido mais difícil conseguir lugar. Também aproveitamos para ir a alguns brinquedos que ainda não tínhamos ido. Divertido, devo dizer.

Saldo final da Oktoberfest: tem festa para todos. De crianças a adultos, de solteiros a casados, para quem quer comer e para quem quer (infelizmente, devo dizer) apenas encher a cara. Você sempre vai encontrar a sua forma de se divertir por lá.

Mas vale fazer dois lembretes, já citados anteriormente:

  1. São cerca de seis milhões de visitantes por ano. Portanto vale a pena se planejar para tirar o melhor proveito, evitar filas e, caso seja de seu interesse festejar em uma das tendas, conseguir lugar.
  2. A cerveja é servida em canecos de um litro, e é de uma safra especial com teor alcóolico mais forte do que o normal. Eu como destesto excessos e detesto mais ainda a ressaca que ela pode causar no dia seguinte, ressalto aqui a importância de se alimentar bem e beber bastante água, repor sais e glicose entre uma cerveja e outra. Também é fundamental respeitar o próprio limite. Assim a brincadeira rende de forma saudável.

Abaixo algumas fotos misturadas, dos cinco dias. Ou talvez de dois, ou de três. São do nosso arquivo pessoal, algumas nossas, outras de amigos. O Daniel, que nos visitou e estava conosco na quinta vez em que fomos lá, tirou algumas das muitas que postei abaixo em um dia de céu azul que fez as fotos parecerem pinturas!

Tenda Tradition, no Oide Wiesn:



Oide Wiesn:

Tenda Löwenbräu:

A festa fora das tendas:

Oide Wiesn de novo:

Panorama da roda gigante (eu disse que fica cheio)
Os grandes telhados são as tendas:

Tenda Tradition, no Oide Wiesn:
Canecas de um litro de cerveja em uma das mãos, outras bebidas na outra

Breze, pra completar o duo Bier & Brot (cerveja e pão):

P.S. tem mais um relato da Oktoberfest do ano passado clicando aqui. Nele tem explicações sobre os trajes típicos do sul da Alemanha, e que todo bávaro que se preze tira do armário no mínimo uma vez por ano: na Oktoberfest.

Para crises de abstinência de coxinha

Mal cheguei a Munique e já descobri o reduto dos brasileiros na cidade. Não que exista apenas um, mas esse um que conheci já me basta. Porque quem mora fora sabe: é muito fácil encontrar lugares pseudobrasileiros cheios de clichês e estereótipos, mas um bom cantinho brasileiro… é mais difícil.

Estava passeando pela cidade quando minha amiga me apresentou o Copacabana. Diferente do Botequim Carioca, em Berlim, que é um bar-botequim-restaurante, o Copacabana tem hábitos mais diurnos. É uma mistura entre a lanchonete brasileira e a cafeteria europeia.

Lá pode-se pedir um socorro quando você tiver crises de abstinência de coxinha e empadinha, pão de queijo e açaí na tijela, além de sucos de frutas, saladas e sanduíches. Provei a coxinha e adorei! Bem recheada e sequina por fora. O pão de queijo também é bom.

E a decoração? Adorei! Coisa fina, as referências ao Brasil estão todas lá. Inclusive até os clichês, mas sem exageros e bem trabalhados. O ambiente é realmente aconchegante.

Então, para quem porventura ainda não conhece, o Copacabana fica na Sendlinger Str. 31 – 80331 München.