Alemães vs. Brasileiros: ter e parecer ter

Atendendo ao pedido da Luana, escrevo aqui impressões comparativas entre alemães e brasileiros. Deixo entretanto um recado aos ufanistas de plantão: o intuito deste texto é promover uma reflexão divertida com fundinho de verdade. Exceto pelo caso descrito no post anterior, que não deixa de ser um quadro de comparação implícita, as situações aqui neste texto são fictícias. Ou não. Vai saber!

E, por fim, que fique bem claro: temos plena consciência de que toda regra tem suas exceções. Dos dois lados.

Also… Vamos à situação comparativa do dia.

Diálogo um:

– Onde você mora?
– Giesing (bairro de classe média de Munique)
– Longe, né?
– Nem tanto. São cerca de quatro quilômetros até o trabalho.
– Você tem carro?
– Tenho, claro. Muito longe para ir a pé para o trabalho, e eu me recuso a andar de transporte público nessa cidade!
– Eu também acho péssimo. Esse transporte aqui pode até ser pontual, confortável, mas… sério, não dá pra me amarrar a horário de ônibus, e se ele tiver acabado de passar quando eu chego no ponto eu ainda tenho que esperar dez minutos, DEZ MINUTOS até o próximo! Não dá, né? Mas me conta… que carro você tem?
– É uma BMW 769 li. Comprei outro dia mesmo, paguei 120 mil euros. Rapá, to endividado até a alma, gasto horrores de combustível naquela belezura pra fazer ela correr, mas vale a pena! Fora o status que ela dá!
– Uau que máximo! Vidinha mais ou menos essa sua, hein? hehe
– É, não tenho do que reclamar não. Agora com esse investimento a decoração do apartamento vai ficar mais devagar. Eu até adquiri umas cadeiras do tal de  Starck outro dia. Sabe aquela… err… como se chama mesmo? Invisível? Aquela do fantasma…
Ghost. A cadeira Ghost.
– Isso. Nem sei qual é a do sujeito, mas me falaram que é um designer famosíssimo, queridinho de umas celebridades famosas, tipo aquele cantor sabe?
– Sei.
– Pois é. Esse cantor tem a cadeira fantasma também na sala de jantar, igual a minha. Só que ele tem pra oito pessoas, e quando deu uma festa na casa dele alugou mais umas tantas. Eu por enquanto tenho só uma mesmo. Por enquanto ela está meio solitária na sala, mas quando acabar de pagar eu vou comprando as outras, aos pouquinhos mesmo. Mas é da mesma, viu? Qualidade e originalidade acima de tudo, né?

Diálogo dois:

– Onde você mora?
– Schwabing (bairro de classe média mais alta do que Giesing)
– É longe do trabalho?
– Uns cinco quilômetros. É bem localizado o suficiente.
– E você vai como para o trabalho?
– Vou de bicicleta, melhor opção. Assim economizo um dinheiro, além de ser ecologicamente correto, né? Combustível, estacionamento, tudo isso é muito caro.
– É verdade. Eu também adoro bicicleta, excelente oportunidade de fazer atividade física também! Só é difícil no inverno, mas aí eu uso transporte público. Pontual, eficiente, super tranquilo. Compro o passe mensal e ponto.
– Isso também. Eu até tenho um carro, mas não uso diariamente não. Uso pra viajar, ou fazer compras, ou quando preciso ir a algum lugar mais afastado, ou no inverno.
– E o apartamento? Você se mudou tem pouco tempo, né?
– Sim, sim. A gente está arrumando. Ando pesquisando preços, tem umas coisas que acho bonitas, mas prefiro cadeiras confortáveis e em quantidade suficiente pra todo mundo que nos visitar. Cadeira é pra sentar, né? Mas tem cada exorbitância por aí em termos de preço…
–  Eu também acho. Comprei umas na IKEA outro dia que são legais e bonitas. Recomendo. Tinha visto umas outras parecidas, mas era uma loja bem mais cara. Daria até pra comprar, mas eram tão parecidas que não percebi tanta diferença assim.
– Sei como é. Aconteceu comigo quando procurei uma mesa de jantar. Po, eu não queria pé de mesa-escultura, queria um tampo firma com quatro pés normais e ponto.Tem quem não goste da IKEA, mas eu acho prático. Tudo bem que tenho três amigos que tem camas iguais à minha, mas nem ligo!

Pescaram? Concordam? Discordam?

16 pensamentos sobre “Alemães vs. Brasileiros: ter e parecer ter

  1. Hahahahaha, é por essas e por outras que brasileiro não tem nada nunca… Poupança ZERO.
    Outro dia eu estava conversando com uma pessoa classificada como alta sociedade do Rio (a mais alta possível, global morre de inveja) sobre esssa nova onda das TVS de LED e cia. Ele disse que as TVS normais agora ele só vê na casa dos muuuuuuito ricos… porque na sala até da empregada dele a TV é de LCD. Afinal, rico de verdade, espera a TV pifar de vez para poder trocar! Já os outros…

    Adorei esse texto! Divertidíssimooooooo! Acho que nem 30% é fictício…

    (Dez minutos??? Que coisa demorada! kkkk)
    Beijo

  2. Hahahaahaha
    Menina, não reconheci as diferenças, não, viu? (Mentira!)
    Mas, um dia ainda compro uma BMW, tá no sangue, sabe? No sangue turco, principalmente. (Ohhhh língua!)

    Beijos!

    p.s. sobre o post anterior, que foi? quer colo? não tenho tangerina, mas tenho dois ouvidos… 😉

  3. acho que vc alemanizou…
    como brasileira, vivendo tb no exterior, creio que os dois diálogos poderiam acontecer em qualquer um dos países. veja o exemplo da TV de LED citado no comentário acima…
    não por acaso a BMW, mercedez benz e volkswagen são originárias da…

    • Sheila, eu mesma citei no texto que toda regra tem exceções dos dois lados. Portanto é óbvio que qualquer um pode travar qualquer dos dois diálogos. Entretando, existem coisas que se repetem mais em uma cultura do que na outra sim, quer você queira ou não. É estatístico, e não tem como negar.

      É claro que alemães gostam de carro. E de Design, e de coisas caras, embora muito mais por associar a coisas de qualidade do que a uma grife. Nunca – eu disse NUNCA – vi uma alemã se gabando de ter comprado um Louboutin, ou almejando comprar um, só porque é Louboutin. As diferenças estão no fato de que, geralmente, alemães não tem necessidade de se autoafirmar em cima disso. Além disso, gastam MENOS do que recebem. Enquanto brasileiro cai dentro do financiamento, frequentemente só pelo status de pertecer ou parecer pertencer a classe A. É ou não é?

      Tem várias coisinhas exemplificadas neste texto. Várias. Mas, repetindo: claro que toda regra tem exceção. Dos dois lados. Beijos!

  4. hahahahahahahaha adorei! e concordo com a dona flor, o diálogo 1 certamente sao de russos. imagina se tem brasileiro assim, né? rs
    saudade de vc, mas em julho tenho que ir em Munique registrar o Davi e ai voce e o Rafa nao escapam de tomar um café com a gente…
    beijos

  5. Toda conversa em Munique começa ” qual o seu bairro?” A sociedade é dividida pelos bairro…. em verdade eu nem sei se o nosso bairro é bom ( posso tá queimando filme por ai e nem sei)…

    Já notei que as nacionalidade caem sempre na mesma pergunta..
    Russas: o que seu marido faz?
    Thai: Você tem visto permanente?
    Alemãs: Você trabalha? Onde? Quanto ganha?
    Brazucas: Vc tem carro? seu marido é Rico?

    • Opa, quanto eu ganho ninguem nunca me perguntou nao! rsrsrs
      Mas a observacao das nacionalidades é bem interessante.
      Interessante tambem que eu nao disse no texto qual o diálogo que se refere a qual nacionalidade. Curioso…
      Já eu moro em um bairro que é tido como subúrbio aqui. Mas eu acho tão gostosinho e arrumadinho! Sabe como é, os padrões brasileiros de subúrbio são outros… Beijos!

  6. estou rindo bastante com os dialogos, e consigo imaginar eles realmente acontecendo, ao vivo e a cores. Com certeza, nao dá para generalizar, mas é uma tendencia beeem visivel.
    Eu ja ouvi varias vezes comentarios dos tipos:
    -Bolsa nova? (detalhe – era uma channel original)
    – É, mas estava em promocao. Minha vó achou bonita e insistiu para me dar de presente de natal.

    ou
    -Carro novo? (super Audi, brilhando, novo, modelo esportivo, e um motorista de uns 20 e poucos anos)
    – É. Mas ele é tao economico! O outro estava consumindo muita gasolina, o imposto era mais caro, e cada ano perdia muito valor. Eu fiz as contas e valeu a pena investir um pouco. Digamos assim, um investimento a longo prazo.

    é tudo questao de ponto de vista!

  7. Subúrbio nao!!!
    Giesing tá ficando cool, Jane… a velharada tá morrendo toda, e os alemaes espertos que nao querem gastar uma fortuna só pra morar nos bairros mais chiques, porém barulhentos, estao todos se mudando pra cá. Nosso cantinho está valorizando. rs
    Espero que nao valorize muito. De verdade. Pra mim, tá bom assim.

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